Relato sobre uma senhora caduca na comunidade Cordoeira, em Nova Friburgo – 19 de Outubro, 2016.
Texto e fotos por Ananda Ribeiro
Hoje eu conheci a dona Dulcinéa. Ela estava esquecida dos ocorridos da vida, mas não esqueceu de sorrir. Sem nunca ter me visto na vida, me viu. Sorriu e movimentou as mãozinhas enrugadas me chamando, me pedindo um abraço. Abracei! Que mal que tem? Só bem que tem. Que abraço gostoso. Ela perguntou meu nome, mas até agora não conseguiu descobrir. Não conseguiu pronunciar. Disse que eu era a cara de sua irmã – que por sinal, já morrera faz tempo, mas ela não se lembra disso. A neta ao lado, ria-se da avó gagá. Mas não com um riso de deboxe! Um riso de alegria, de amor, de ver na velhice da anciã uma beleza pela qual se apaixonar. Me despedindo, fui embora. “Fique com Deus, bela senhora!”. A neta, ainda se rindo, indagou à boa velhina: “Você a conhece, vovó?”, “Ué, ela é minha irmã!”. Haha. Ri-me eu então. Há tanta sabedoria na caduquice, há tanto amor e saudade no coração.