Presa à estátua e rodeada de cartazes, a ativista quer pressionar deputados a criar comissão contra decisão do STF que acredita estar legitimando o aborto até o terceiro mês de gestação
Texto: Ananda Ribeiro/GNI
Imagens: Divulgação Facebook
Sara Giromini, mais conhecida como Sara Winter (ex-feminista), começou um jejum público por tempo indeterminado na última quarta-feira (30), às 17h. O protesto é um ato contra o aborto e contra as brechas que estão sendo abertas para uma possível descriminalização dessa prática no Brasil. O jejum começou devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – que continuará a ser julgada pela Justiça do Rio – de revogar a prisão de envolvidos em um aborto.
Sara foi líder do movimento feminista “Femen” no Brasil e, depois, do movimento Bastardxs. A ativista ficou conhecida por protestos radicais onde, nua, lutava por direitos das mulheres e minorias. Por alguns anos, levantou a bandeira do aborto, e ela mesma já praticou o ato há pouco mais de dois anos. Foi justamente essa circunstância que começou a mudar o pensamento da ativista, que se arrependeu do que fez. Pouco tempo depois, ela deu à luz a um menino, se converteu ao cristianismo e começou a lutar a favor da vida.
No dia 29 de novembro, três ministros do STF – Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Edson Fachin – votaram pela revogação da prisão preventiva de cinco pessoas envolvidas em um caso de aborto, feito em clínica clandestina, em Duque de Caxias-RJ. A decisão foi sobre o habeas corpus de um caso específico, entretanto, pode ser usada como base para futuras decisões judiciais, abrindo precedentes para a descriminalização do ato.
Opiniões divididas
O caso gerou polêmica na internet. Há os que acreditam que a legalização do aborto vai beneficiar mulheres que correm risco de morrer por precisarem abortar clandestinamente, principalmente as mais pobres, que não podem pagar por uma clínica particular. Há os que questionam quando começa a vida do bebê, acreditando que se não há atividade cerebral, não há vida, portanto, o aborto não deveria ser criminalizado. Também existem os que defendem a liberdade da mulher de decidir sobre seu corpo e de, mesmo após a concepção, decidirem ter o bebê ou não – pois isso caberia em seu direito de escolha sobre si.
Por outro lado, há os que afirmam que a melhor proteção contra os riscos do aborto é não abortar, e que a legalização incentiva o ato. Há os que acreditam que a vida começa desde a concepção e, por isso, abortar em qualquer fase da gestação deve ser considerado crime. Houveram questionamentos na internet sobre o fato de um átomo em Marte ser considerado vida e um feto não. Também existem os que afirmam que o direito de escolha da mulher está no uso de métodos contraceptivos e não abortivos, sendo que existem diversas formas de prevenir a gravidez, e ainda os que incentivam o encaminhamento de “bebês indesejados” para adoção, tendo em vista que a fila de famílias que desejam adotar recém-nascidos é grande. Muitos, inclusive, se ofereceram nas redes sociais para receberem esses bebês.
Informações sobre a greve de fome
Sara está em uma estátua no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro/RJ, e tem publicado constantes atualizações sobre seu estado e sua luta. A primeira mensagem sobre o jejum dizia: “ATENÇÃO AMIGOS DA DIREITA DO RIO DE JANEIRO! O STF acabou de legitimar o aborto até as 12 semanas se gestação. Não posso ficar sem fazer nada. Diante disso, começo hoje, na ALERJ, às 17h, uma greve de fome por tempo indeterminado. Peço a ajuda de vocês, para que quando puderem apareçam para me fazer companhia, me atualizar das notícias, etc. Peço que respeitem o meu protesto, não me convençam de comer ou beber água, e divulguem essa ação em todas as suas mídias sociais.
Se o STF tem coragem de matar bebês inocentes, então ele tem coragem de matar uma pessoa adulta. Será que tem mesmo? Vamos ver então. Obs: Meu filho está muito bem cuidado, não se preocupem com isso”.
Em uma de suas últimas declarações, feita por volta das 7h desta quinta-feira (1º), Sara postou foto com uma amiga de luta e declarou: “Só saímos quando a comissão dos Deputados realmente for criada, com nomes e diretrizes contra a decisão arbitrária do STF em legitimar o aborto até os 3 meses de gestação”.