Mesmo em meio às dificuldades, ele quer aprofundar estudos para servir melhor o povo nepalês
por Márcia Real para o GNI
Esta história é sobre um fisioterapeuta nepalês de 25 anos, chamado Bipin Chapagain, e sobre sua família. Bipin tem o sonho de fazer um mestrado em sua área, para servir seu povo cada vez melhor. O relato é sobre alguém que não desiste e, apesar das dificuldades, continua acreditando que sonhos podem se tornar reais com muito trabalho e dedicação.
Como tudo começou
Dois irmãos gêmeos nasceram em uma cesárea de emergência no Hospital Thapatali, em Kathmandu, em Outubro de 1992. Bibek veio primeiro e, 10 minutos depois, chegou seu irmão Bipin. Nasceram de sete meses e ficaram na U.T.I. por 15 dias. O pai, Bishnu Chapagain, e a mãe, Lila Chapagain, não acreditavam que os bebês sobreviveriam, porque eram muito frágeis e estavam à beira da morte. Mas eles sobreviveram.
Por causa da condição econômica dos pais, era muito díficil criar duas crianças ao mesmo tempo. E para agravar a situação, os gêmeos estavam sempre doentes por causa da imunidade baixa. A mãe levou os irmãos para a casa da avó na região Oeste do Nepal, no distrito de Kanchanpur, próximo a fronteira com a Índia.
Quando estavam prontos para retornar a Kathmandu, o bebê mais velho ficou doente. A longa viagem poderia deixá-lo pior, por isso, com lágrimas nos olhos e o coração partido, a mãe deixou Bibek no colo da avó e levou Bipin de volta a Kathmandu. Demorou cinco anos para que a família se reunisse novamente. Foi muito difícil ficarem separados, mas essa foi a melhor forma encontra para criar os dois meninos.
Após cinco anos, Bipin e seus pais foram a Kanchanpur visitar Bibek. Foi emocionante ter a família reunida novamente, mas os gêmeos não se reconheceram. Bibek recusou dizer “minha mãe, meu pai”. Ao verem isso, os pais decidiram levar Bibek com eles para Kathmandu.
Separados pela guerra
De 2002 a 2008 foi a época mais difícil para a família Chapagain, por causa da guerra civil no Nepal. O pai de Bipin era militar. Durante a guerra civil, ele foi a vários lugares no Nepal lutando contra os Maoístas. Bishnu Chapagain foi abençoado e teve sorte de permanecer vivo. Viu a morte de perto várias vezes.
Certa vez, um Maoísta jogou uma bomba que caiu nos seus pés, mas milagrosamente não explodiu! A família foi ameaçada por eles diversas vezes. O casal raramente se via e a comunição era por meio de cartas.
Em 2010, Bishnu deu baixa no Exército e foi à Angola, para trabalhar por cinco anos como segurança em uma companhia de jóias chamada CATOCA. Com o salário, ele queria custear o estudo dos filhos. Depois de Bipin e seu irmão completarem o Bacharelado em Fisioterapia, seu pai se aposentou e retornou ao Nepal. A família se reuniu novamente em 2015.
O sonho de estudar
Mas ainda havia um objetivo que eles queriam alcançar: o mestrado. Infelizmente, no Nepal não há mestrado em fisioterapia. Eles precisavam de uma oportunidade para sair do país e alcançar esse sonho.
Em Fevereiro de 2017, Bibek teve a grande oportunidade de ir para a Austrália e realizar esse sonho, mas Bipin teve que ficar em Kathmandu por causa do seu contrato de dois anos no hospital em que trabalha. Além disso, ele necessita de finanças para poder fazer o curso.
Quando seu irmão partiu para a Austrália, foi um dos dias mais difíceis da vida de Bipin, porque precisaram se separar novamente. Nos últimos 20 anos, os gêmeos não se separaram para nada, em nenhum momento. Agora é difícil lidar com a distância. Quando ele chega em casa e vê as fotos do irmão a saudade aperta. A casa ficou incompleta sem Bibek.
Atualmente, Bipin trabalha no National Institute of Neurological and Allied Sciences (NINAS). Não foi fácil conseguir esse emprego. Ele ama e tem orgulho de sua profissão, mas a verdade é que ele não está satisfeito, pois ganha o mínimo para sobreviver e não sobre para investor em treinamentos melhores.
Outra paixão de Bipin é o futebol! Ele é fã do Arsenal e Alemanha. Admira Mesut Ozil, seu favorito, não só como jogador, mas como ser humano. Ele se encantou em saber que Ozil doou uma grande quantia para crianças com problema de coração no Brasil após a Copa do Mundo de 2014. Bipin sonha em conhecer o jogador, ter uma boa conversa e tirar uma selfie. Ele planeja utilizar sua profissão também na área esportiva.
Apesar das dificuldades, Bipin acredita que “dinheiro não é tudo”. Ele quer conquistar o mais alto prestígio, mas com dignidade. Segundo ele, as pessoas reconhecem um profissional de bom caráter e, dessa forma, é possível ser um exemplo para outros.
O mestrado em fisioterapia ainda é um sonho para Bipin. Para aqueles que sentem o desejo de ajudá-lo de alguma forma, ele mandou um recado. “Isso será fantástico! Terei oportunidade de adquirir mais conhecimento e experiência e voltar ao Nepal. Eu sonho com isso e estou pronto para encarar esse desafio. Meu ponto fraco é ser perfecionista, querer tudo muito bem feito. Quem estiver disposto a me ajudar a conquistar meu sonho não será desapontado”.
Para entrar em contato com Bipin, escreva para kanchubipinozil@gmail.com.